segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Egoísmo

Ainda 2018 não nos tinha dito adeus, já eu andava a refletir sobre resoluções para o novo ano.

Imaginei-me a ganhar o euromilhões, a fazer viagens, a tornar-me empresária...enfim, mudar de vida.
Aliás, imagino-me muitas vezes a fazê-lo...

Dizem que contar as resoluções do novo ano a outra pessoa ou escrevê-las num lugar em que muitos as possam ler, nos obriga a lutar com mais afinco por elas. Não sei se é assim comigo, mas sei que só de mim depende atingi-las e até superá-las. 

Quando se passa a meta dos 40, chega também uma certa nostagia. Encaramos a vida de uma forma totalmente diferente. Não que fosse mais feliz antes do que agora, Mas começamos a recordar os tempos em que não tinhamos preocupações, apesar de acharmos que tinhamos muitas e que era o fim do mundo se não soubessemos negociar com os pais uma saída com amigos, ou se nos zangávamos com uma amiga...ou se, ou se... sim, talvez nos deixasse tristes, mas preocupações? Puffff!!!

Mas voltando às resoluções...tenho algumas, todas possíveis de concretizar e que passam muito por estar atenta ao que me circunda. 
E isso meus caros, isso mói a moleirinha, porque é triste o que enxergo.

Uma inércia desmesurada pela aflição do outro.
Um egoísmo atroz que me dá vergonha alheia.
A propagação do sentimento de coitadinho...que consome a nossa energia vital.

Ninguém se salva sozinho, minha gente!

Mas sobre as resoluções...
A primeira - ajudar, ajudar, ajudar quem precisa.
Partilho convosco, porque a solidariedade é contagiosa...

A vida coloca-nos no caminho, todos os dias, esta possibilidade.
E acreditem, este intento dá-me um sentimento de dever cumprido.
Uma espécie de condimento que alimenta a alma. 

2019 já é assim, nos cruzamentos da vida, serei amparo a quem precisar.
E, quantas vezes, basta ouvir...e abraçar.

“Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu.
Como não sou judeu, não me incomodei.
No dia seguinte, vieram e levaram
meu outro vizinho que era comunista.
Como não sou comunista, não me incomodei.
No terceiro dia vieram
e levaram meu vizinho católico.
Como não sou católico, não me incomodei.
No quarto dia, vieram e levaram-me;
já não havia mais ninguém para reclamar...” Martin Niemöller - 1933 - Símbolo da resistência aos nazis









segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

O poder do amor

O Coco está a recuperar de todos os traumas, de todas as barbáries que lhe fizeram.
Psicologícamente é um bichinho muito sofrido e fisicamente terá sempre no corpo todas as maldades a que o sujeitaram.
Sim é mais um animal vítima do homem e o pior é que não será o último.
O imbecil do antigo "dono" nunca o amou.
(Desculpem a falta de delicadeza, mas quando aqui falar do imbecil, já sabem a quem me refiro.)
O Coco até podia ter fugido, perdendo-se da sua matilha, do seu "dono", vagueando, faminto...sem que o encontrassem...talvez tenha mesmo fugido dos maus tratos, ou então deixou de servir às exigências do idiota que o tinha prisioneiro.
O Coco pensou que o caçador era a sua guarda, mas não.
O Coco foi em tempos, orelhudo...o imbecil teve a ideia brilhante de lhe cortar as orelhas.
Porquê?
Porque, lá está, é um imbecil.
O mentecapto, também conhecido por imbecil, nunca soube olhar dentro dos olhos do Coco, porque se o tivesse feito, em algum momento, não lhe cortaria os dentinhos mais afiados, polindo todos os outros para que o Coco não comesse a caça...
Conseguem imaginar a selvageria? A crueldade?
O Coco nunca foi amado, nunca foi feliz, nunca foi compreendido quando, de certeza, suplicava que não queria aquela vida...
Hoje é um cão que precisa de muito amor, de alguns cuidados até ganhar confiança.
O Coco vive com os seus novos donos, rodeado de amor, atenção.
Vive com dignidade, como todos os animais deveriam viver.
A caça é considerada um desporto...como?? É massacre em todos os sentidos.
É suposto existirem veterinários que acompanham o processo...
Um veterinário não é suposto ser apaixonado pelo animal, seja ele qual for?
Alguém que me explique a presença deles na caça, sem que nada seja feito que impeça e proíba esta bestialidade?
Ah e tal, também não precisas ser radical...
Preciso e serei sempre.
Tenho um grande malquerer a quem defende a tortura animal.
Se seguem esta história desde o início, entendem o poder do amor.
Vejam e descubram as diferenças.
O antes e o agora.
E sim, é o mesmo cão!



terça-feira, 15 de janeiro de 2019

A promessa ao Coco e o final feliz!


Não sei muito bem como explicar o misto de emoções que sinto desde que conheci o Coco.

O Coco estava ali. no nosso caminho a pedir, desesperadamente, SOCORRO.

Ele não chorava, mas o Coco era, visivelmente, um cão muito triste.

Era dia 29, perto do final do ano.

Os destinos cruzam-se e, tantas vezes, passam-nos ao lado, por distração ou por outra razão superior. Mas ali, o destino do Coco e o nosso cruzou-se e deixou nós demasiado fortes que se pudessem algum dia desatar.

A história dele já a contei, não vou repeti-la.
Se quiserem, voltem a lê-la para sentir melhor a dor dele.

A sua capacidade de suportar a dor e sobreviver, e a dor de quem por ele se interessou (verdadeiramente), é um exemplo. O Coco é um sobrevivente.

Foram muitas as portas a que batemos, foram muitos os telefonemas que fizemos, pedimos por favor, pedimos muito. Muito mesmo.

Todas noites adormecia a pensar nele. Chorei, não me envergonho disso.

Nunca lhe perdemos o rasto. Entre as linhas de telefone percebemos como os animais estão indefesos, não há lei que os proteja. A lei que proíbe o fim do abate em canis, existe, mas é só isso. Não há fiscalização em muitos canis do país, não há, simplesmente não há. 

Os animais são ali deixados para parecer que têm um sítio abrigado ou alguém que lhes dê amor...pois...visitem, de vez em vez, canis ou centros de recolha no país e vejam por vocês próprios...conseguem sequer imaginar?? São prisões. Se o homem não gosta de prisões porque gostará um animal?

A solução? Existem algumas, como a esterelização...fiscalização pura e dura, multas elevadas, financiamentos, protocolos...mas o Governo deste país não quer, não é prioridade...

Podia falar aqui de um caso em concreto, mas não o farei, pelo menos agora.
Agora o tempo é do Coco e o de saborear com ele a liberdade.

Sim, a liberdade do Coco! Conseguimos! Não fomos muitos, mas conseguimos!

O Coco foi colocado nos estaleiros da Câmara da Idanha a aguardar vaga para um canil, um daqueles cuja fiscalização está no seu limite...sim, o Coco acabaria por morrer, depois de lhe darmos esperança...

Durante duas semanas, lutamos por ele. 
Ontem foi o dia em que o coração dele aqueceu novamente, o dia em que ele, de novo, acredita na bondade do homem.
A diferença querido Coco, a grande diferença, é que desta vez é definitiva.

Não terás mais dono sem coração, dono que te bate, que parte os poucos dentinhos que resistiram, que finge gostar de ti para acreditares nele e lhe prestares vassalagem. Isso meu amor, acabou!

Finalmente vais ter a família que mereces.
Vês? Não desistimos de ti, tal como te prometi quando me despedi.

Sei que vais olhar nos olhos da R. da APAAE, a verdadeira responsável pela tua salvação e logo ali se apaixonará por ti e perceberá a tua forma única de mostrar gratidão. Só quem teve o privilégo de te conhecer, na mais dura das tuas batalhas, sabe o quão tu és grato. 

A R. da APAAE, foi a pessoa que mais me compreendeu desde que te conheci...ela não escutou as minhas lágrimas pelo telefone, mas escutou, incansavelmente o meu pedido de socorro, enquanto estavas preso...a R. salva companheiros como tu, e só por isso já é uma das poucas super mulheres que conheço. Gostava de ter um bocadinho da garra dela.

Meu Coco lindão, as pulgas que te fizeram companhia enquanto andaste sozinho, enquanto não encontraste o caminho guia até nós, serão apenas uma lembrança longinqua para ti. A tua humildade perante todos, mesmo faminto e indefeso, são a prova de como terno tu és.

A tua história, que se tornou também nossa, mostrou-me muito sobre as pessoas.
Sabes que mais? São poucos os que olham para fora da sua bolha. Ou porque não querem, ou não se interessam, ou não acrediram que conseguiríamos salvar-te e por isso não valeria a partilha do teu pedido de socorro, ou porque não querem histórias destas no seu mural ou nos instastories...

Como dizem, se a doença do próximo não te causar dor, então a tua doença é pior do que a dele...

Foi triste assistir a isso. Revoltei-me muitas vezes, em silêncio! Mas nada se compara ao tormento que viveste desde que te abandonaram.

Ninguém sabe pelo que passaste antes de te encontrarmos, o que tu já sofreste viverá em ti. Sempre.
Mas o amor que te espera apaziguará o teu medo. Prometemos, acredita.

Coco, meu querido Coco...que vontade de te abraçar e de te olhar nos olhos e pedir-te que acredites no homem, agora a sério!

Comporta-te perante a tua nova dona, sei que o vais fazer, és tão calminho, tão passivo.
És tu, único. Para sempre o Coco, mesmo que a tua dona te rebatize! A C. será a tua dona e fico muito contente com a tua sorte!

A palavra AMOR, só agora a irás conhecer...mas é sempre tempo. Somos tantos apaixonados por ti...talvez o saibas, afinal tu não falas, mas nós, os que te salvamos ouvimos o teu socorro.

Obrigada Coco por esta lição de vida.
Tenho os olhos a segurar as lágrimas, mas desta vez são de uma extrema alegria que acho que a consegues sentir...

O Coco chegou ontem à APAAE, magro, desidratado...mas sempre terno, doce, muito, muito tímido...está com antibiótico...
O Coco será submetido a uma pequena cirurgia por causa da ferida que trazia e depois, a sua família definitiva espera-o cheia de amor para lhe oferecer.  

O Coco já é um cãozinho quase idoso, talvez 8 aninhos. As batidas do seu coração indicam-o. Foi um cão de matilha, de caça ao javali...isso diz muito sobre o seu antigo "dono".

Obrigada a todos os que partilharam a história do Coco (poucos...).
Obrigada às associações que protegem os animais e que foram partilhando todo o processo.

Obrigada à Câmara da Idanha, que no final do processo foi sensível ao caso do Coco.
A vocês, em especial, peço-vos que lutem para dar a estes animais um lugar digno e que se afastem da linha de pensamento adotada pelo canil de Proença, uma prisão lotada, um Auchewitze, segundo ouvi...

Obrigada C.

Obrigada querida R.! Obrigada do coração. Em breve terei o prazer de a conhecer pessoalmente!

A APAAE - Associação de Proteção e Apoio ao Animal Errante de Castelo Branco tem um projeto único que, como todas as organizações sem fins lucrativos, precisa da ajuda de todos para continuar a ajudar mais companheiros do Coco.
São todos bem vindos, ajudem, custa pouco. Saem da vossa bolha, só vos faz bem!
Eu saí e foi tão bom.  

Por fim, ao suposto dono que causou tamanha dor ao Coco...os cães não julgam, mas o homem sim.
Carregue o seu fardo na solidão do seu coração. Deve ser bem pesado.





Aqui está o coco, quando chegou à APAAE, vindo de um lugar triste, para onde jamais voltará!






  

sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

Apresentamos o Coco!


O Coco é um menino grande, mas frágil que foi pedir socorro aos habitantes de uma aldeia, por altura do Natal.

O antigo dono foi deixa-lo perto da aldeia das Soalheiras, ou talvez mesmo dentro da aldeia, sem que o vissem faze-lo. Cobardia e muita falta de amor no coração. A bondade de um homem vê-se na forma como trata os animais…é o que dizem e o Coco acreditou, até ao dia em que foi deixado para trás, entregue à sua própria sorte. Não se sabe porquê ou quem sabe não quer dizer. Não importa a razão. Nenhuma é aceitável.

O Coco foi como que um presente de Natal para as Soalheiras, pelo menos para quem acreditou na sua recuperação.

O Coco estava fraco, sem água e sem alimento, não sabemos há quanto tempo. Sujo, com uma ferida feia do seu lado esquerdo. O Coco trazia uma corrente em volta do pescoço, demasiado pesada, sem que algum bom senso o justifique. Foi-lhe tirada, mas a marca ficará para sempre. Os passinhos que dá são sempre, sempre em direção a alguém. O Coco pede desesperadamente amor. O Coco é um cãozinho magoado.

Percebemos que o A e a L estavam a cuidar dele, mas daí a um dia iriam deixar a aldeia e o Coco ficaria desamparado, outra vez.

Resolvemos então cuidar dele, enquanto por ali estivemos. Nem podia ser de outra forma! Foram quatro dias a viver para a recuperação dele e voltaríamos a fazê-lo!

O Coco teve uma casinha só para ele que o protegeu das noites frias. Comia quatro vezes ao dia, alimento seco, mas também a carninha com arroz que ele começou a conseguir mastigar, depois de ganhar força suficiente para o fazer.

O Coco adora brócolos! Tem alguns dentes partidos. Não sabemos porquê…ou quem sabe não quer dizer…

A ferida foi limpa todos os dias, o Coco adora a água nem quente nem fria no corpo, agora mais forte…o Coco agradece fechando os olhos e respirando fundo…tal como agradece enquanto come, olhando nos nossos olhos e abanando a cauda.

Quatro dias tão intensos. Quatro dias em que o Coco se transformou.

O Coco já dá beijinhos nas mãos. Já arrisca subir e descer as ruas das Soalheiras. O Coco já se anima quando vê os outros cães vizinhos e reaprendeu a abanar a cauda, já bem enroladinha. O seu pelo ficou quase novo e recuperou a sua fala…

A despedida de 2018 e a entrada em 2019 foi comemorada com ele, todos em redor do madeiro que ardia.

O Coco dormia profundamente, aconchegado, descansado, quase feliz. Dizemos quase, porque ainda é incerto o seu futuro.

O Coco quer acreditar nos humanos. O Coco não é um menino que guarda rancor. É um menino com esperança.

Na aldeia não seria difícil o Coco transformar-se na mascote…entre a ajuda de todos tudo se tornaria fácil, mas o Coco não culpa ninguém. O Coco só quer ser feliz, com um dono ou muitos donos. Pede pouco e não insiste.

Esta troca de mimos, entre nós e o Coco durou quatro dias.

E quem pergunta porque o deixamos ali…já temos um canito, salvo de um canil, para abate. Também nós acreditamos…

O momento da despedida foi difícil. Deixamo-lo sem saber muito bem como seria o seu futuro.
Forçamo-nos a não voltar ao lugar onde ele ficou...

Um dos habitantes das Soalheiras ficou com ele até chegar a GNR e verificar as questões ligadas ao abandono do Coco. Quem ficou com ele naquela noite disse não o deixar ir se fosse para um canil…quer sim que um veterinário cuide da ferida, porque das outras, as internas, o Coco saberá faze-lo com a ajuda dos humanos.

O Coco é um menino grande, mas continua frágil.

Voltamos a Lisboa e esperamos receber boas notícias deste bebezola que tem tanto amor para dar.

O Coco chegou, pedindo socorro, pedindo conforto.

O Coco foi batizado pela D. E acreditem, em quatro dias começou a reconhecer o seu novo nome, se é que alguma vez o antigo dono lhe deu algum.

 O Coco é lindo e merece mimo e acreditem que ele sabe retribuir muitíssimo bem.

O Coco é emocionante, enternecedor.

O Coco deixou-nos em lágrimas e ainda deixa.

Não desistas Coco, por favor acredita.

Nós voltamos em breve para te devolver em mimos todo o amor que nos ofereceste.

Este é o coco, já com alguns dias de muito amor.



















terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Vem 2019


Podia vir aqui falar dos porquês de andar fora desta casa.
Podia vir contar histórias da vida, passadas neste tempo em que por aqui não estou.
Podia muita coisa, mas sabes, não me apetece!

O teu mano mais velho foi, em algum tempo, sacana comigo. Aplicou rasteiras quando eu ainda me erguia de uma ou outra trapaça que veio com ele. Ao começar de cada trampolinice, eu pensava que ele me castigava, teimava em roubar-me as alegrias e as esperanças que eu construí.

Mas o teu mano 2018, sendo mais velho que tu, é sábio. Agora que ele cede o seu lugar a ti, percebo que, durante algum tempo, o via como traiçoeiro. Não foi nada disso, pelo menos comigo.

Agora vejo tudo de outra perspetiva. Não sei se por estar aqui hoje, melhor do que estava há um ano, ou se, por tal como ele, estar mais velha e também mais resiliente.
Sei que as rasteiras não eram reprimenda, mas sim um ensinamento. Aprender a ouvir os sinais.

Estamos a poucos dias da sua despedida e eu tenho esta mania ou fraqueza, quando penso com amedrontamento no que virá contigo, Não é por seres tu. Já o era com os teus manos velhinhos. Sou eu, é uma falha, uma imperfeição, se preferires.

As emoções estão em maré-cheia no meu coração, umas boas, outras com a etiqueta da desilusão para sempre pendurada. Muitas coisas difíceis de esquecer, outras já esqueci. O teu mano ensinou-me a deixar ir o que não me acrescenta… é pesado, ainda o é.

Tenho a sorte de ter por perto as pessoas que mais importam e sempre me apoiam, incondicionalmente. Assim tudo é mais simples, menos violento.

O que te peço, quando chegares, é que repares como te espero: de braços abertos.
Olha-me nos olhos e diz-me que não és de rasteiras. Que me irás apresentar novas lições, sem que eu tombe.
E já agora, peço que me ajudes a encontrar um jeito de esquecer as amarguras do passado e a controlar as ansiedades com o futuro. Ensina-me que viver o agora é, talvez, um dos caminhos que nos leva ao bem-estar, mental e físico.

O teu irmão ainda não partiu, mas, embora travesso e desobediente, já sinto a sua falta pelos momentos em que me ergui com a sua advertência.

Por tudo isto, vem 2019, bem vindo!
Faz a tua parte. Eu prometo fazer a minha.